quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
LONDRES / 伦敦
Estou há uns minutos a pensar como hei-de começar a escrever este post... Aliás já reescrevi estas linhas algumas vezes. Li ontem que o cinema Londres vai ser demolido e dar lugar a uma loja de chineses. Não que tenha algo contra os chineses, mas parece-me tão pouco digno este final para um cinema que já foi considerado a melhor sala estúdio de Lisboa e um dos símbolos desta cidade. Quando era puto ir ao Londres era sempre uma festa, desculpem, ir ao cinema era uma festa e ia-se muito mais vezes que agora. A festa não era por ser raro, era por ser bom. Não ia ao Londres tantas vezes como ia a outros, até porque acho que para a sala principal o bilhete era mais caro, mas o Londres tinha uma coisa que mais nenhum tinha. Umas cadeiras que desciam suavemente quando nos sentávamos. Hoje isso parece banal, mas há 20/30 anos, garanto-vos, era a loucura!! Quase equivalente ao abrir pelas primeiras vezes um vidro eléctrico do carro. Não sei sinceramente o que querem fazer de Lisboa, começaram por matar o quarteto, de seguida o King e agora o Londres. Pelo meio também o Éden e o Condes foram à vida, o Odeon pouco deve faltar, a Cinemateca idem e o S. Jorge cheira-me que não sobrevive mais uma década. Muitas das nossas referências culturais e sociais estão-se a ir embora e nós deixamos. Deixamos porque na verdade o que interessa é levar o Eusébio para o panteão (com o respeito que tenho ao Eusébio), tornar gente estúpida famosa, mandar vir com todos os que dizem mal do Cristiano e atestar o depósito antes da gasolina subir. Se houver algum escândalo com famosos, ou alguma morte de estudantes, de certeza que também saltam para o top das nossas preocupações. Se nos interessassem as nossas raízes, a nossa cultura, o legado que deixamos para as próximas gerações, a conversa era outra. Provavelmente teríamos menos centros comerciais e mais cinemas. As pessoas já não se lembram como era ir ao cinema, é triste. Antes ia-se ao cinema agora vai-se ver um filme. Antes os cinemas tinham aquele ambiente tranquilo, as pessoas iam ver um espectáculo, falavam baixinho na entrada, escolhiam o lugar onde queriam ficar quando compravam o bilhete (excepção feita ao quarteto), não falavam durante o filme nem eram apanhadas em sobressalto quando o telemóvel resolve tocar. Ao intervalo falava-se do filme e quando acabava também, aquilo era o acontecimento. Hoje não, vai-se a um shopping, come-se uma porcaria qualquer, escolhe-se um filme, um balde de pipocas e uma bebida (aquele sorver no fim é um clássico). Fala-se e ri-se alto na sala de cinema, como se estivéssemos em casa em frente ao plasma, se for caso disso troca-se um sms ou outro e no final quase de certeza que na primeira ou segunda oportunidade já se está a checkar o instagram ou facebook. Os tempos mudaram, as pessoas e os hábitos também, pena é que não se tenha mudado para melhor. Deixa-me triste que não se pense mais além, que não se pense que um dia estes sítios vão ser apenas histórias que tiveram um final infeliz, histórias que se vão perdendo e que daqui a três gerações já não são faladas sequer. O cinema vai morrer, o teatro e a revista também (bye bye parque mayer) e o que vai sobrar da nossa cultura? pouco ou nada suponho... Não me admira também que daqui a três gerações, provavelmente sejamos governados por chineses e que o partido da oposição seja Angolano, ou vice versa. isto não é saudosismo meu, é mesmo burrice nossa!!
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1 comentário:
Assino por baixo!
É tudo isto que escreveste.
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