domingo, 13 de março de 2011

UM PAÍS À RASCA

O que eu vi sábado foi um país à rasca, todas as gerações estavam lá a marcar presença, e não me pareceu que fosse apenas por solidariedade pelos recém licenciados que ganham 500€. Eu quando me licenciei, ganhava 27 contos em senhas de almoço, e trabalhava numa multinacional. Os recém licenciados de hoje estão à rasca, é um facto, mas lá vão tirando uns mestrados e ganhando 500€ de ordenado, que a bem da verdade nem lhes dá para sair de casa dos pais, mas em Portugal os filhos ficarem na sombra dos pais até aos trinta e tal anos também não é de hoje.
Desespero total, deve ser o de muita gente que na casa dos 30 e tal aos quarenta e tal, de repente se vê sem emprego e sem perspectivas de arranjar um novo. Endividamentos brutais, encargos enormes e o desespero a não dar descanso.
Estou a 100% com manisfestações como a de sábado, marcarei presença em todas e lutarei sempre por um Portugal melhor, e do lado dos mais fracos. Mas não posso deixar de achar, no minimo irónico, que se calhar grande parte das pessoas que lá estavam sábado, foram as mesmas que nas últimas presidenciais não foram votar e deixaram o Cavaco voltar à presidência. Foram os mesmos que reelegeram o Sócrates e que não marcaram presença no primeiro referendo do aborto, que nunca se deram ao trabalho de meter os patrões em tribunal sabendo que os mesmos estavam a infrigir a lei.
A vida é fodida, tal como o amor, mas é preciso consciência que a luta é diária, e não só quando uma manifestação toma a forma de festa.
Eu sou um preveligiado, porque tenho trabalho, e um trabalho que gosto. Comecei a trabalhar em 1999, quando a "crise" estalou e nunca mais parei. Engoli sapos (e não foram poucos), chorei de raiva, tive vontade de desistir muitas vezes, meti um patrão em tribunal,interroguei-me várias vezes se seria capaz de "vingar" no mundo do trabalho, mas no fim nunca baixei os braços e refilei onde muitos se calaram. Muitos da minha geração preferiram ser a geração "basta", que a geração "rasca", e a luta é assim. Dia a dia, com alegria e com confiança que o amanhã vai ser melhor.
A classe politica é um nojo, a Europa ou o que querem fazer dela também o é. E então?? vamos ficar parados a pensar nos coitadinhos que somos? ou vamos à luta?
Lutemos por melhores condições de trabalho, por mais justiça social. Lutemos com a voz, com as palavras, com as músicas, com as imagens. Para sermos um país melhor temos sobretudo que gostar de nós e saber quais os nossos direitos e deveres.
Tenho curiosidade em saber se este movimento vai ficar por aqui, ou se vão ser precisos mais "homens da luta" e "deolindas", para nos mostrarem o que há uma década que não queremos ver.
Por pior que seja a classe politica, a culpa não é toda deles, aliás a culpa nunca morre solteira. Nós acomodamo-nos, temos um ensino miserável e os alunos praticamente nada sabem ao fim de 3 anos de licenciatura. É preciso entender que não temos bases, e sem bases como chegaremos a algum lado?
10% da população Portuguesa é analfabeta, grande parte dos licenciados não sabe escever correctamente português, nem tão pouco falar. O interesse nacional é o futebol e os shoppings centers, a maioria dos empregados está mais tempo no facebook do que a produzir, aliás a produtividade em Portugal é 30% mais baixa que no resto da união europeia.
É uma situação vergonhosa a nossa, desesperante e com pouca esperança que melhore no futuro. Mas a verdadeira luta que temos de travar primeiro não será contra a nossa inércia? seguida da luta contra esta cambada de chulos e corruptos que nos governa?
A única coisa que espero, é que o barulho de sábado tenha um efeito de despertador nas vidas de todos nós!
Para mim BASTA, e para ti? À RASCA?










Antes fosse uma geração que estivesse à rasca, pelo menos não era novidade nenhuma.