sexta-feira, 4 de maio de 2012

OS "NOVOS POBRES"

E o Pingo Doce continua a dar que falar. Depois do meu post de há dois dias atrás, tenho andado a ouvir imensas opiniões, todas elas válidas, todas elas diferentes.
No entanto, dá para perceber que uma nova classe social está a emergir, os "novos pobres".
Eu sinceramente, quero acreditar que o Pingo Doce, não previa que isto ia ter este "boom", e que foram surpreendidos pela afluência anormal de pessoas, ávidas de descontos.
É legitimo dizer que as pessoas apenas foram comprar mais barato porque estão com dificuldades, é legitimo dizer que o Pingo Doce podia ter escolhido outro dia para o fazer, mas também é certo que todas as outras grandes superficies estavam abertas e disso ninguém fala. O que eu acho que está a passar ao lado da maior parte das pessoas que critica, ou está a favor desta iniciativa, é o espelho deprimente do país que isto é!!
É óbvio que toda a gente gosta de descontos, ainda para mais de 50%, mas na minha óptica só alguém muito desesperado aceita esta esmola (que não é mais do que isso), e se sujeita a estar 2/3/4/5 horas num hipermercado para poupar, nem que seja 200/300€.
Isto mostra (e quero acreditar que o Pingo Doce não o previu) a falta de dignidade do povo. Como dizia e bem ontem o Pacheco Pereira, é humilhante sair de um hipermercado a arrastar sacos de compras, depois de 5 horas de luta nos lineares!!
Penso que se as pessoas tivessem um nivel de vida aceitável, com emprego estável e boas previsões de futuro, pura e simplesmente não se sujeitariam a estas coisas.
Não estamos a falar de uma iniciativa periódica, estamos a falar de uma iniciativa singular, a que as pessoas aderiram em desespero, porque na verdade não sabem o dia de amanhã.
Dar um bocado de pão a um sem abrigo ajuda em alguma coisa? alimentar uma vez um cão de rua ajuda em alguma coisa? não!! apenas lhes tira a fome momentaneamente, não lhes resolve o problema.
Foi isso que passou terça feira, mandaram-se umas esmolas para o chão e o povo ajoelhou-se e apanhou. Não critico quem o tenha feito, porque sei que há pessoas a passar muito mal, mas deixa-me triste que tenhamos chegado a este estado.
Meus amigos, isto não é contra o Pingo Doce, nem contra as pessoas que lá foram, é contra a nossa dignidade enquanto povo. Há melhores e várias maneiras de ajudar o povo, sem que ele tenha que passar por estas tristes figuras. Os "novos pobres", são então aqueles, que ainda aparentam ser ricos, mas que vivem como pobres. Não querem vender as carrinhas nem os iphones, mas na hora da verdade estão lá, ávidos pela esmola, que lhes permite poupar para mais uma prestação do carro, da casa, do iphone... Pior, ainda se gabam de lá terem ido, porque na verdade não têm dois neurónios para perceberem a tristeza a que chegámos, nem que a dignidade humana tem limites.



2 comentários:

Anónimo disse...

Concordo, no entanto não acho que se trate de falta de dignidade "do povo", mas tão só falta de dignidade com que as pessoas (ou povo) são tratadas.

De resto compreende-se perfeitamente que as pessoas que suportam 2 a 5 horas de filas de supermercados para poupar 200 euros são também aquelas que suportam 40 ou mais horas de trabalho semanal para ganhar 500/600 euros ilíquidos, e não são tão poucas.

A nivel de imagem, não sei como de futuro a marca vai justificar que em certos dias faça 50% de desconto (sem prejuízo como alegam)para noutros voltar aos preços normais. Mais do que passar a imagem de marca que faz descontos imbatíveis, passará aquela da marca que vende com margens de lucro iguais ou superiores a 50%.

André carvalho disse...

quando digno falta de dignidade, refiro-me ao que o pingo doce fez.
Obvio que se atirares uma tira de carne a um sem abrigo ele vai apanhar... mas fdx, há necessidade disso? :/